O seu blogue explicado assim, pela autora:
«porque sim. porque não? porque é mesmo assim. porque ninguém manda em mim. porque é que perguntas? porque mais vale tarde que nunca e nunca é tarde para tanto. porque a vida está cheia de equívocos. porque só as palavras não chegam, a não ser que rimem 'comigo', 'contigo' e, sobretudo, com o silêncio que fica entre nós. porque boiar é tão bom e há por aí quem precise. porque, neste momento, não podia ser outra coisa, nem outra estação, muito menos mais solidão. porque escrevo e respiro. porque sinto que faz sentido e só isso já chega. porque a rede ampara-me as quedas. porque viver é ver e ser vista e, neste caso, escrever e ser lida.»
O texto da Inês de Barros Baptista, que a seguir apresento, já está no éter, propagando-se, com muito sucesso. É absolutamente notável. Leiam e confirmem, por favor.
«os dias da sombra
parei hoje um pouco para pensar em tudo o que já escrevi e, sobretudo, em tudo o que já publiquei. nove livros ao todo, um muito antigo (tinha 16 anos), outro há mais de uma década, os sete restantes ao longo dos últimos três anos.
parei também para sentir que, à minha volta, quase todos perseguem o mesmo: a paz interior, a luz ao fundo do túnel, a consciência de que não viemos à toa percorrer caminhos sem rumo, o encontro de cada um consigo próprio e com os outros, o tal amor incondicional no qual todos desejamos fluir.
trajectos que, tantas vezes, espelham acima de tudo os momentos mais bem conseguidos, ou tudo aquilo que ressoa pelo lado do brilho. basta-me dar uma volta aqui pelo FB para reparar como são tantos - eu própria incluída - os que inundam os seus murais com links ou citações de gurus e de outros 'mestres iluminados', ou mesmo com frases da sua autoria, e em que a mensagem é sempre 'boa'.
tudo isto para chegar onde?...
que andamos todos a tentar 'resolver-nos', não tenho uma dúvida. mas - e agora falo apenas por mim - a máscara da 'iluminada' - que até escreve, inspirada, sobre fadas, almas, desejos, índigos, dias de luz - só poderá começar a cair quando não existir mais o medo de mergulhar a fundo nas minhas sombras e de as trazer à superfície. quando não tiver mais pudor de espécie nenhuma em revelar o meu lado sombrio. acham o quê? que estou 'resolvida'?... 'crescida'? que pratico tudo o que digo? que a Balança supostamente amorosa não tem também os seus ódios?... as suas crises de auto-estima? que não manipulo, não controlo, que não componho cenários idílicos fingindo que já lá estive?!...
os Dias da Sombra são isso. levantar o tapete para ver para onde é que tenho andando a varrer o meu pó e mostrá-lo a quem quiser vê-lo. todos temos os nossos 'tapetes'. todos varremos o pó para lugares onde os outros não possam vê-lo. todos preferimos mostrar onde é que somos feitos de luz - porque o somos, de facto - e esconder as partes que estão na penumbra.
pois eu deixei de ter medo e vou pôr as sombras à mostra.
nem sequer com o intuito de que, expostas ao ar, se dissolvam e me iluminem, mas por fazerem parte de mim e porque estou mesmo farta de máscaras!
(e não, não é um exercício de auto-flagelação na praça pública, apenas... terapia :))»
O 'Cova do Urso' já se tinha referido aos livros de Inês de Barros Baptista, aqui.
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20 comentários:
Bom dia António!
Agradeço de coração a indicação desse blog maravilhoso da Inês.
Mergulhei fundo nos textos publicados e adorei...
Já o estou seguindo, é claro...
Vi os links do post abaixo...falta conferir alguns...
Um beijo grande para um excelente dia!
Astrid Annabelle
Bom dia, Astrid,
Ainda bem que gostou do blogue da Inês. Isso irá acontecer com imensa gente, muitos deles já a conhecem. O blogue é daqueles que começou devagarinho, ao som da chuva (aqui chove) e quando menos dermos por ela, terá imensos seguidores. Ainda por cima, é uma simpatia de pessoa.
Hoje, irei analisar com atenção a 2ª volta do dia 31. :))) Não sei se escreverei alguma coisa.
Beijo
António
O Blog da Inês remete-me a um silêncio monástico.
Lê-la, para mim, é como andar à chuva e poder chorar sem que ninguém perceba.
É como voltar a uma casa que conheço há muito. Acolhedora. Onde a lareira aínda está acesa e um prato de sopa quentinho me espera na mesa.
É como ter uma árvore mágica que contém uma porta secreta.
É assim para mim.
Que bom!
Um grande bem haja aos dois*
(Astrid, um abraço daqueles*)
Susana..bom dia!
Outro abração gostoso!!!
Você é outra adorável escritora!
E mais um beijinho
Astrid Annabelle
António, Astrid e Susana. Somos TODOS admiráveis escritores, cada um com a sua voz própria, o seu estilo, as suas interrogações. E que bom estarmos ligados em rede e podermos ler-nos assim uns aos outros, muito para além do que as nossas palavras transmitem e sentindo que é a alma que fala por trás da estrutura sintática.
beijos aos três
repenicados, claro está :))
Susana,
A expressão mais adequada é mesmo essa: «silêncio monástico». Completamente de acordo. O blogue é indíssimo, acolhedor e, obviamente, muito bem escrito. Percebo lindamente o design de um blogue assim. mas eu sou suspeito, pois aprendi a gostar muito da Inês.
Terminei agora um post chamado 'Onde está o seu poço de lágrimas?'. Não sei quando sairá, talvez amanhã, mas sei que vai gostar. Claro que é um post astrológico. :))
beijo,
António
Inês
Muito agradecido pela presença.
É excelente estarmos ligados em rede.
Beijos,
repenicados, claro!
António
´poço de lágrimas'?
ai António, que aí vamos nós outra vez, a pique para baixo, a pique para dentro, e sem escanfrandro, está claro :))
Fiquei aqui a ler, a escrever um comentário e apagar, apagar...
Gostei muito da honestidade e coragem da Inês.
Que essa terapia seja cada vez mais suave e divertida, pois pode ser muito divertida, afinal...
Um beijinho para os dois
Olá, Antônio
Passo pra agradecer seu comparecimento ao meu convite pro coquetel, muito delicado da sua parte.
Forma muito generosa de prestigiar os amigos internautas. Obrigado.
Seja feliz e abençoado!!!
Abraços fraternais
"Eu deixei de ter medo e vou por as sombras a mostra"... Lindo!!!
Pois... "poço de lágrimas"... Uff! É mesmo Inês! De acordo. Lá vamos nós outra vez...
C'um escafandro! ;)
BEJIRS*
Beijos repenicados... (vou ter que descobrir o que é isto???)...Inês, Susana estou providênciando um escafandro...
Por "acaso" descobri seu post do dia 01/10 em uma página lá no FB...adorei e deixei meu comentário aqui.
António, mais um beijo. Sonhe com os anjos.
Astrid Annabelle
Meu amigo António, adoro tua generosidade em nos apresentar grandes poetas.
Obrigado!
Beijos.
Anónima das 19h30
Muito agradecido pela sua visita e por ter apreciado o blogue da minha convidada.
Bem haja.
António
Orvalho do Céu
Apreciei muito o seu coquetel. Delicado, perfumado e muito feminino.
Beijo
António
Inês e Susana
Não vai ser necessário escafandro. Não é de minha autoria, mas sim de uma amiga astróloga. Foi usado no fórum da Escola de Astrologia Nova-Lis, em 2007 ou 2008, como forma de exercício lúdico e interpretativo. Mas tem muita graça, pois ficamos a saber onde se encontra o nosso poço de lágrimas.
Beijos repenicados.
Astrid
Beijos repenicados são aqueles que são dados com um certo estalido ou ruído. São beijos sonoros. :)))
Saulo
Muito agradecido por ter vindo descobrir a escrita desta autora magnífica.
Hoje é feriado em Portugal - comemora-se o centenário da República.
Beijos
Li: Morrer é só não ser viso e gostei bastante!
Vou espreitar o blog dela que desconhecia! Obrigada!
Especial,
É um blogue muito recente e lindíssimo, além de muito bem escrito.
Obrigado.
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