«Tina», a Yorkshire mais feliz do mundo, apesar da sua cegueira

8 de junho de 2011 ·

A Tina
Pedi a uma grande amiga - a Valentim -, se estava disposta a escrever e ilustrar um texto sobre a sua companheira canina, a Tina, que ficou cega. Eu conheço pessoalmente a Tina, que é muito carinhosa comigo e me cumprimenta sempre. Aqui fica o seu testemunho:

«A pedido de alguém, que é muito especial na minha vida, resolvi homenagear, ainda em vida, um dos seres mais espectaculares que entraram nesta minha vida. A Tina.

Foi em Fevereiro de 2003 que a Tina chegou para abrilhantar a minha vida e a dos meus familiares. Chegou depois de ter passado um inverno muito rigoroso, perdida na Mata dos Medos, na Fonte da Telha (Costa da Caparica), Portugal. Na altura, tinha o pescoço todo ferido, magra e com sinais de luta pela sobrevivência. Comia terra e as suas fezes eram terra, também.

Rapidamente se integrou numa família que tinha perdido a sua caniche cerca uns dois anos antes. A Tina tinha cerca de 3 a 4 anos de idade. Estava no auge das suas primaveras. Ainda hoje, a Tina é muito brincalhona.

A Tina

A Tina na praia.
A praia era e ainda é, o seu local de eleição. O que dantes eram as bolas e as ondas, hoje, após ter cegado, é brincar na beira da àgua e correr para as gaivotas, o que faz com que a Tina se divirta muito numa ida à praia.

A Tina brincando com as ondas, à beira mar, já depois de ter cegado.
Vive, actualmente, com duas das suas irmãs a Ace (uma cadela arraçada de Golden Retriever) e com a Tuigui (uma Bijon Maltês). Já viu partir companheiras como a Guga e a Lucky.

A Guga, que já desencarnou.
A Lucky, que já partiu. Ver post aqui.
A Tina terá agora cerca de doze anos de idade. Está cega, mas isso não lhe retirou a sua beleza natural, o seu encanto.

A Tina, percebendo-se pelos olhos, que é invisual.
Conhece perfeitamente os cantos à casa. É a primeira a dar sinal quando qualquer um de nós está para chegar. Recebe os donos e visitantes à porta, sempre com a mesma alegria e satisfação. Vai à rua, desce e sobe as escadas pelas suas próprias patas.

Quando anda na rua apenas temos que lhe dizer palavras como: atenção ou cuidado, para que ela se desvie dos obstáculos que encontra pelo caminho.

Come no seu próprio recipiente e, se nós deixarmos, come também o comer das suas irmãs, pois cada uma tem a sua tijela. Adora rebolar-se pelo chão, nas suas mantas, em cima do sofá, na relva, enfim onde lhe apetecer.

A Tina em foto muito recente, a rebolar-se na relva
Gosta de viver um dia após outro. Gosta de passear na praia, no campo e de brincar com as suas irmãs.

A Tina, pela trela e as amigas, a Ace (ao fundo) e a Tuigui, de pêlo claro.
A Tina está com a trela, pois como já está cega, necessita de uma leve orientação.
Espiritualmente falando, muitas vezes me interrogo, sobre qual o significado de ter um animal de estimação que perdeu a visão? À conversa com um amigo, foi-me explicado que representa uma evolução espiritual da minha parte.
A brincar com as amigas.
Desde muito jovem sempre tive cadelas como animais de estimação e a dada altura da minha vida, aprendi a lidar com a perda desses mesmos animais amigos.

A Tina, já invisual
Hoje em dia não me causa qualquer transtorno conviver diariamente com um animal de estimação que sofra qualquer doença. Antes pelo contrário. Recuso-me terminantemente a separar-me delas, sobretudo quando estou de férias ou em períodos de folga.

A Tina no Algarve, de férias
Já mais do que uma vez me foi vedada a entrada em esplanadas e outros parques por estar acompanhada pelas minhas princesas, e a minha pergunta a quem me proíbe a passagem é sempre a mesma: “Se eu vier acompanhada por crianças você também me proíbe a passagem?”

Após a indignação de quem proíbe, respondo sempre: “Se as princesas não são bem-vindas a este  espaço, então é porque eu também não sou bem-vinda”. Viro as costas e retiro-me. Só aceito separar-me delas no dia em cada uma de nós tiver cumprido a sua missão nesta vida. Nessa altura faço o meu luto e sigo em frente.

Jamais me passa pela cabeça mandar abater um animal seja porque motivo for. Jamais me passou pela cabeça mandar abater a Tina, só porque ela é cega. Seria o mesmo que mandar abater um ser humano pelo mesmo motivo, e esse direito não me assiste.

A Ace, a Tuigui e a Tina, sequiosas, num dia quente de Verão, num passeio prolongado.
De uma certa forma não concordo com os veterinários que aceitam praticar a eutanásia a pedido dos “donos” dos animais. Sobretudo com o argumento que “...não suportam ver os bichos a sofrer!” Que hipocrisia. A essas pessoas eu pergunto: “Quando um familiar seu sofrer de uma doença crónica, aguda, contagiosa, terminal, etc, você pede ao médico que pratique a eutanásia?”

Os veterinários estudaram para salvar e cuidar da vida dos animais, não para matá-los, ainda que seja a pedido dos donos, ou para não perderem um cliente.

A Tina e a Ace, a descansarem, depois de muita correria na praia.
Não é porque a Tina perdeu a visão, que perdeu as suas faculdades. Dá amor, como ninguém. Todos os dias nos ensina que a vida deve ser vivida diariamente com as condições que temos e dentro dos nossos limites. E todos os dias esta minha cadela aceita de coração aberto, esta sua condição de invisual.

A seguir, fica um pequeno vídeo feito nas férias de 2010. A Tina no seu acordar diário.






Valentim
A companheira da Tina»

Muito obrigado, Valentim. Excelente testemunho, que agradeço muito.
Beijos e carinhos às princesas.
António


.

5 comentários:

Astrid Annabelle disse...
8 de junho de 2011 às 15:58  

António querido!
Fiquei encantada com a história da Tina!
Valentim, quanto amor!
Beijos para todos!
Astrid Annabelle

Anónimo disse...
8 de junho de 2011 às 19:09  

Não há cegueira que cubra quem tem doce na alma...
A Tina é uma verdadeira sortuda!
Um abraço a quem a ampara.

Helena Borges

andre eduardo disse...
8 de junho de 2011 às 19:46  

Depressa vi a grandeza da liberdade do que podemos vir amar. São estes pequenos caminhos cruzados que conservam toda a força de uma unidade e do seu valor.

Filomena Nunes disse...
9 de junho de 2011 às 12:09  

Bom dia alegria!! :D

A aceitação do que a vida nos traz é a maior lição que podemos integrar. Fluir com a vida.
É claro que parece mais fácil assim dito, não é! Mas, geralmente, ainda complicamos mais...
Adorei a história da Valentim e das suas princesas. Muitos parabéns!! Continue assim, fresca e lúcida..

Beijinhos a todos.

Filomena

MARCELO DALLA disse...
15 de junho de 2011 às 06:52  

Esse post me emocionou profundamente!
Gratidão, querido!!!

8 de junho de 2011

«Tina», a Yorkshire mais feliz do mundo, apesar da sua cegueira

A Tina
Pedi a uma grande amiga - a Valentim -, se estava disposta a escrever e ilustrar um texto sobre a sua companheira canina, a Tina, que ficou cega. Eu conheço pessoalmente a Tina, que é muito carinhosa comigo e me cumprimenta sempre. Aqui fica o seu testemunho:

«A pedido de alguém, que é muito especial na minha vida, resolvi homenagear, ainda em vida, um dos seres mais espectaculares que entraram nesta minha vida. A Tina.

Foi em Fevereiro de 2003 que a Tina chegou para abrilhantar a minha vida e a dos meus familiares. Chegou depois de ter passado um inverno muito rigoroso, perdida na Mata dos Medos, na Fonte da Telha (Costa da Caparica), Portugal. Na altura, tinha o pescoço todo ferido, magra e com sinais de luta pela sobrevivência. Comia terra e as suas fezes eram terra, também.

Rapidamente se integrou numa família que tinha perdido a sua caniche cerca uns dois anos antes. A Tina tinha cerca de 3 a 4 anos de idade. Estava no auge das suas primaveras. Ainda hoje, a Tina é muito brincalhona.

A Tina

A Tina na praia.
A praia era e ainda é, o seu local de eleição. O que dantes eram as bolas e as ondas, hoje, após ter cegado, é brincar na beira da àgua e correr para as gaivotas, o que faz com que a Tina se divirta muito numa ida à praia.

A Tina brincando com as ondas, à beira mar, já depois de ter cegado.
Vive, actualmente, com duas das suas irmãs a Ace (uma cadela arraçada de Golden Retriever) e com a Tuigui (uma Bijon Maltês). Já viu partir companheiras como a Guga e a Lucky.

A Guga, que já desencarnou.
A Lucky, que já partiu. Ver post aqui.
A Tina terá agora cerca de doze anos de idade. Está cega, mas isso não lhe retirou a sua beleza natural, o seu encanto.

A Tina, percebendo-se pelos olhos, que é invisual.
Conhece perfeitamente os cantos à casa. É a primeira a dar sinal quando qualquer um de nós está para chegar. Recebe os donos e visitantes à porta, sempre com a mesma alegria e satisfação. Vai à rua, desce e sobe as escadas pelas suas próprias patas.

Quando anda na rua apenas temos que lhe dizer palavras como: atenção ou cuidado, para que ela se desvie dos obstáculos que encontra pelo caminho.

Come no seu próprio recipiente e, se nós deixarmos, come também o comer das suas irmãs, pois cada uma tem a sua tijela. Adora rebolar-se pelo chão, nas suas mantas, em cima do sofá, na relva, enfim onde lhe apetecer.

A Tina em foto muito recente, a rebolar-se na relva
Gosta de viver um dia após outro. Gosta de passear na praia, no campo e de brincar com as suas irmãs.

A Tina, pela trela e as amigas, a Ace (ao fundo) e a Tuigui, de pêlo claro.
A Tina está com a trela, pois como já está cega, necessita de uma leve orientação.
Espiritualmente falando, muitas vezes me interrogo, sobre qual o significado de ter um animal de estimação que perdeu a visão? À conversa com um amigo, foi-me explicado que representa uma evolução espiritual da minha parte.
A brincar com as amigas.
Desde muito jovem sempre tive cadelas como animais de estimação e a dada altura da minha vida, aprendi a lidar com a perda desses mesmos animais amigos.

A Tina, já invisual
Hoje em dia não me causa qualquer transtorno conviver diariamente com um animal de estimação que sofra qualquer doença. Antes pelo contrário. Recuso-me terminantemente a separar-me delas, sobretudo quando estou de férias ou em períodos de folga.

A Tina no Algarve, de férias
Já mais do que uma vez me foi vedada a entrada em esplanadas e outros parques por estar acompanhada pelas minhas princesas, e a minha pergunta a quem me proíbe a passagem é sempre a mesma: “Se eu vier acompanhada por crianças você também me proíbe a passagem?”

Após a indignação de quem proíbe, respondo sempre: “Se as princesas não são bem-vindas a este  espaço, então é porque eu também não sou bem-vinda”. Viro as costas e retiro-me. Só aceito separar-me delas no dia em cada uma de nós tiver cumprido a sua missão nesta vida. Nessa altura faço o meu luto e sigo em frente.

Jamais me passa pela cabeça mandar abater um animal seja porque motivo for. Jamais me passou pela cabeça mandar abater a Tina, só porque ela é cega. Seria o mesmo que mandar abater um ser humano pelo mesmo motivo, e esse direito não me assiste.

A Ace, a Tuigui e a Tina, sequiosas, num dia quente de Verão, num passeio prolongado.
De uma certa forma não concordo com os veterinários que aceitam praticar a eutanásia a pedido dos “donos” dos animais. Sobretudo com o argumento que “...não suportam ver os bichos a sofrer!” Que hipocrisia. A essas pessoas eu pergunto: “Quando um familiar seu sofrer de uma doença crónica, aguda, contagiosa, terminal, etc, você pede ao médico que pratique a eutanásia?”

Os veterinários estudaram para salvar e cuidar da vida dos animais, não para matá-los, ainda que seja a pedido dos donos, ou para não perderem um cliente.

A Tina e a Ace, a descansarem, depois de muita correria na praia.
Não é porque a Tina perdeu a visão, que perdeu as suas faculdades. Dá amor, como ninguém. Todos os dias nos ensina que a vida deve ser vivida diariamente com as condições que temos e dentro dos nossos limites. E todos os dias esta minha cadela aceita de coração aberto, esta sua condição de invisual.

A seguir, fica um pequeno vídeo feito nas férias de 2010. A Tina no seu acordar diário.






Valentim
A companheira da Tina»

Muito obrigado, Valentim. Excelente testemunho, que agradeço muito.
Beijos e carinhos às princesas.
António


.

5 comentários:

Astrid Annabelle disse...

António querido!
Fiquei encantada com a história da Tina!
Valentim, quanto amor!
Beijos para todos!
Astrid Annabelle

Anónimo disse...

Não há cegueira que cubra quem tem doce na alma...
A Tina é uma verdadeira sortuda!
Um abraço a quem a ampara.

Helena Borges

andre eduardo disse...

Depressa vi a grandeza da liberdade do que podemos vir amar. São estes pequenos caminhos cruzados que conservam toda a força de uma unidade e do seu valor.

Filomena Nunes disse...

Bom dia alegria!! :D

A aceitação do que a vida nos traz é a maior lição que podemos integrar. Fluir com a vida.
É claro que parece mais fácil assim dito, não é! Mas, geralmente, ainda complicamos mais...
Adorei a história da Valentim e das suas princesas. Muitos parabéns!! Continue assim, fresca e lúcida..

Beijinhos a todos.

Filomena

MARCELO DALLA disse...

Esse post me emocionou profundamente!
Gratidão, querido!!!

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