Interpretar é o principal trabalho do astrólogo. Sempre foi assim e assim deveria ser. No entanto, hoje em dia há umas quantas distorções que não abonam em nada o trabalho em astrologia.
Sabemos que interpretar é um processo intelectual e consciente - fruto de anos de estudos e de analisar mapas [sobretudo os natais] -, no entanto, as raízes dessa consciência estão imersas no inconsciente. É lá que se encontra o caldeirão fervente da vida.
Pede-se ao ‘artista’ [como John Dee dizia] que siga as regras da interpretação, o que, em meu entender, deveria iniciar-se com este princípio activo e consciente: «a interpretação é uma arte».
Só assim entendo que o astrólogo seja o instrumento muito consciente [repito, muito consciente], de um processo muito activo que excede completamente o plano da consciência humana.
Este facto é tão significativo e, para mim, óbvio, que faz com a Astrologia seja uma disciplina bem elevada, uma linguagem que nos transcende.
Certamente que há uma relação entre consciência voluntária e a fonte da arte de interpretar – chamemos a isso o que entendermos: alma, espírito, inconsciente, mente total e um longo etc. Mas esta é uma relação problemática e, ironia das ironias, em grande parte, ela mesma é inconsciente. Mesmo assim, acredito que há o enorme potencial de que o artista [astrólogo] possa desenvolver em si o canal que deveria ser entre a fonte da consciência e a também fonte da inconsciência.
Para que seja credível, o astrólogo, para o ser, deve estudar muito [são anos e anos], praticar muito e escutar-se a ele mesmo. E não se ‘achar’ nada.
Quem não fizer isto, corre o risco de, em vez de fazer Astrologia, estar num outro registo qualquer a fazer poesia bonitinha, filosofia meio lambidita, hermenêutica de trazer por casa, psicologia para totós e coisas assim. Tudo disfarçado de ‘conversa astrológica’. Mas não é «interpretação astrológica». Não é «descodificar» os símbolos desta linguagem divina, uma tarefa Maior.
17 Outubro 2012
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