23 de novembro de 2007

O durão do Saturno também ama

Por António Rosa

O que habitualmente lemos e ouvimos sobre o simbolismo de Saturno resume-se mais ou menos nisto: o mestre, o velho sábio, o eremita, o monge, as pessoas idosas, os avós, os antepassados, o juiz, o agente governamental, o polícia, o professor, o pai, o chefe, o patrão (em simultâneo com o Sol), os inimigos, os falsos amigos.

Por outro lado, as funções associadas a este planeta, também podem ser consideradas assim: delimitação, fronteira, diferenciação, seletividade, contração, contenção, autocontrolo, realismo, amadurecimento, inserção social (como Júpiter, mas com um sentido mais hierárquico e estrutural, baseado no respeito e na adequação às regras e aos valores instituídos), superego, sombra (sentido junguiano), cristalização e materialização, medo e sentimento de culpa, vergonha.

Tudo isto pode ser reduzido a um conceito muito simples: à expressão paterna do «tu deves» ou pela proibição «tu não deves». Um pai, que faz? Ensina e prepara os filhos a percorrerem o caminho estreito da vida. Com amor. Raramente pensamos ou comentamos que Saturno também ama. Mas sim, ama e muito. Ensinando, cuidando, incitando, caminhando ao lado, velando pela segurança dos filhos. Pais ausentes são um problema sério para a criança ou jovem em formação.

Saturno, num mapa natal, para além de nos ensinar como atravessar os nossos medos e nos redescobrirmos enquanto fazedores da nossa própria vida, também nos diz como somos amados pelo nosso pai e, enquanto muito novos, como podemos chegar até ele, para encontrarmos a serenidade e segurança necessárias para nos sentirmos inteiros, até criamos a nossa própria estrutura interna e consequente identidade.

O meu pai desencarnou quando eu tinha 19 anos. Mas lembro-me bem dele e das muitas formas que senti o seu amor por mim, assim como da sua disciplina. Quando era mais pequeno, estudava comigo e ensinava-me as matérias da escola. Insistia para eu não desistir. Nunca me bateu, ao contrário da minha mãe. Acompanhou-me em numerosas ocasiões difíceis do meu crescimento. Seria fastidioso dar aqui mais exemplos, até porque estou a falar de uma época bem lá atrás, 40, 50 anos. Eram outros tempos e outra educação. Eu sabia que ele estava «ali». Sempre soube. Mesmo hoje em dia, sinto imensas saudades dele.

Talvez o meu quintil Saturno-Sol tenha ajudado a criar uma relação especial com ele. Talvez por Saturno se encontrar em Virgem, na casa 4, fui chamado muito cedo a tomar conta da família. Também vejo a casa 4 (e não apenas a 10), como sendo a casa do pai ou do progenitor predominante. Há mães que não deixam os pais exercerem a sua função. Eu sou do tempo em que ainda não se dava a desculpa do filho ser uma criança índigo. Hoje em dia, sou visto por algumas pessoas muito próximas, como o «patriarca». Outra imagem de Saturno. É uma ideia engraçada.

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince. .

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