«Gémeos: o Um que é Dois, que são o Três…» por Jorge Lancinha

22 de maio de 2012 ·


«Estamos no terceiro mês de Primavera e o Sol entra no terceiro signo do Zodíaco: Gémeos. E tratando-se de Gémeos, era imperativo nomear este artigo com um trocadilho. O jogo das palavras é o deleite deste signo…

Como o nome indica, Gémeos são dois. Na mitologia clássica, são dois irmãos, Castor e Pólux, seres idênticos, espelho um do outro. Um é filho de Tíndaro, rei de Esparta, e outro de Zeus, soberano dos deuses. Um é mortal, filho do Homem, e o outro imortal de divina paternidade. Esta dualidade simbólica é presente em todos nós: somos Um, mas divididos entre o Céu e a Terra. Somos filhos da matéria enquanto corpo mas a nossa essência é espiritual. Mas, tal como no mito dos dois irmãos, é a ascendência divina que prevalece, resgatando da morte a sua contraparte terrena (perante a morte de Castor, Pólux partilha com este a sua imortalidade).

Da interacção entre dois princípios, surge um terceiro. E aqui temos esta sagrada matemática: o Um, que se desmultiplica no Dois, que produz o Três. O princípio espiritual de Carneiro, reflectido na materialidade concreta de Touro, encontra em Gémeos a síntese através da Mente. Gémeos é portanto o nascimento da Mente, uma mente ainda superficial, centrada no fluxo da informação.

É aqui a alvorada da Palavra. E com ela podemos nomear, falar, aprender… Gémeos tem fome de informação e sede de comunicar. Quer tudo saber, tudo abarcar. A sua mente é uma biblioteca de factos, de curiosidades, de pequenos apontamentos enciclopédicos. O seu saber é pouco profundo, naturalmente, mas extraordinariamente abrangente. E assim deve ser, neste estágio inicial, em que é preciso experimentar, testar, deixar a curiosidade tomar o leme da descoberta.

Mercúrio (Hermes) é o planeta regente de Gémeos. Deus das trocas e do comércio, das rotas e das viagens, ele é o mensageiro dos deuses. A sua função é estabelecer pontes e engendrar soluções nas quais a sua inteligência astuta e engenhosa sobressai. Mercúrio é extremamente multifacetado e versátil, ao ponto do mimetismo. Ele simboliza a mente geminiana, capaz de tomar a forma de tudo aquilo que toca. A forma, mas não a essência…

Apesar do imenso poder que a sua inteligência lhe concede, Mercúrio revela um carácter algo infantil nas suas motivações próprias, que não vão muito além da curiosidade e do gozo lúdico do puzzle mental. Ele está sempre presente, cumprindo tarefas essenciais, mas invariavelmente ao serviço de directivas superiores. E é de facto este o papel da mente racional/prática que todos possuímos: estar ao serviço da vontade superior do Eu, executando tarefas, estabelecendo ligações, comunicando, aprendendo. E quando digo do Eu, digo também do Projecto Colectivo.

O estágio de Gémeos concede ao Homem esta extraordinária ferramenta que é a mente. E o desafio, mais uma vez, é a integração: desenvolver o intelecto sem nos perdermos na sua engenhosa teia de simulacros.
A Verdade não é do domínio da mente mercuriana. Chegar à verdade requer silêncio… para ouvir. E o silêncio é a maior conquista de Gémeos. Nas palavras de Pessoa, Gémeos ele próprio: "Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender…"»

Jorge Lancinha


.

1 comentários:

Astrid Annabelle disse...
23 de maio de 2012 às 13:21  

Bom dia meu querido António!

Muito bacana este texto do Jorge Lancinha.Gostei muito!

E mais:

Consegui entrar por aqui para te dizer que vi a sua menção no Facebook sobre o dia de hoje um ano atrás! Li e não consigo comentar...aliás no momento nem acessar o FB estou conseguindo...
Diga aos amigos em comum que assim que eu estiver na net com um sinal melhor irei deixar um beijo para todos por lá.
Por enquanto um beijão para ti, agradecido e com saudade.

Astrid Annabelle

22 de maio de 2012

«Gémeos: o Um que é Dois, que são o Três…» por Jorge Lancinha


«Estamos no terceiro mês de Primavera e o Sol entra no terceiro signo do Zodíaco: Gémeos. E tratando-se de Gémeos, era imperativo nomear este artigo com um trocadilho. O jogo das palavras é o deleite deste signo…

Como o nome indica, Gémeos são dois. Na mitologia clássica, são dois irmãos, Castor e Pólux, seres idênticos, espelho um do outro. Um é filho de Tíndaro, rei de Esparta, e outro de Zeus, soberano dos deuses. Um é mortal, filho do Homem, e o outro imortal de divina paternidade. Esta dualidade simbólica é presente em todos nós: somos Um, mas divididos entre o Céu e a Terra. Somos filhos da matéria enquanto corpo mas a nossa essência é espiritual. Mas, tal como no mito dos dois irmãos, é a ascendência divina que prevalece, resgatando da morte a sua contraparte terrena (perante a morte de Castor, Pólux partilha com este a sua imortalidade).

Da interacção entre dois princípios, surge um terceiro. E aqui temos esta sagrada matemática: o Um, que se desmultiplica no Dois, que produz o Três. O princípio espiritual de Carneiro, reflectido na materialidade concreta de Touro, encontra em Gémeos a síntese através da Mente. Gémeos é portanto o nascimento da Mente, uma mente ainda superficial, centrada no fluxo da informação.

É aqui a alvorada da Palavra. E com ela podemos nomear, falar, aprender… Gémeos tem fome de informação e sede de comunicar. Quer tudo saber, tudo abarcar. A sua mente é uma biblioteca de factos, de curiosidades, de pequenos apontamentos enciclopédicos. O seu saber é pouco profundo, naturalmente, mas extraordinariamente abrangente. E assim deve ser, neste estágio inicial, em que é preciso experimentar, testar, deixar a curiosidade tomar o leme da descoberta.

Mercúrio (Hermes) é o planeta regente de Gémeos. Deus das trocas e do comércio, das rotas e das viagens, ele é o mensageiro dos deuses. A sua função é estabelecer pontes e engendrar soluções nas quais a sua inteligência astuta e engenhosa sobressai. Mercúrio é extremamente multifacetado e versátil, ao ponto do mimetismo. Ele simboliza a mente geminiana, capaz de tomar a forma de tudo aquilo que toca. A forma, mas não a essência…

Apesar do imenso poder que a sua inteligência lhe concede, Mercúrio revela um carácter algo infantil nas suas motivações próprias, que não vão muito além da curiosidade e do gozo lúdico do puzzle mental. Ele está sempre presente, cumprindo tarefas essenciais, mas invariavelmente ao serviço de directivas superiores. E é de facto este o papel da mente racional/prática que todos possuímos: estar ao serviço da vontade superior do Eu, executando tarefas, estabelecendo ligações, comunicando, aprendendo. E quando digo do Eu, digo também do Projecto Colectivo.

O estágio de Gémeos concede ao Homem esta extraordinária ferramenta que é a mente. E o desafio, mais uma vez, é a integração: desenvolver o intelecto sem nos perdermos na sua engenhosa teia de simulacros.
A Verdade não é do domínio da mente mercuriana. Chegar à verdade requer silêncio… para ouvir. E o silêncio é a maior conquista de Gémeos. Nas palavras de Pessoa, Gémeos ele próprio: "Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender…"»

Jorge Lancinha


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1 comentário:

Astrid Annabelle disse...

Bom dia meu querido António!

Muito bacana este texto do Jorge Lancinha.Gostei muito!

E mais:

Consegui entrar por aqui para te dizer que vi a sua menção no Facebook sobre o dia de hoje um ano atrás! Li e não consigo comentar...aliás no momento nem acessar o FB estou conseguindo...
Diga aos amigos em comum que assim que eu estiver na net com um sinal melhor irei deixar um beijo para todos por lá.
Por enquanto um beijão para ti, agradecido e com saudade.

Astrid Annabelle

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